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A Estrela que mesmo escondida guiava

Todas as noites ela seguia em direção ao deserto e, acendendo uma pequena fogueira, ela dançava. Escutava a música com a sua alma, porque a melodia era a das estrelas, da lua, da areia do deserto, do universo. Momentos antes da claridade do dia despontar ela deitava-se sobre a areia e olhava o céu, temia as cobras do deserto e os escorpiões, mas pensava neles como a materialização dos seus medos que precisava de enfrentar. Nos momentos em que contemplava o céu pensava no quão infinito ele seria, e mergulhava naquela imensidão, naquele mar imenso de estrelas cintilantes

como cristais. Uma vez quando estava prestes a partir para a sua tenda olhou para o céu e reparou que a estrela que a guiava não se encontrava visivel, uma nuvem encontrava-se a tapá-la e sentiu-se só, afinal, era para ela que dançava, era por ela que saía todas as noites da sua tenda. Nessas horas ela era livre. Não pensava na sua vida em casa, não pensava que tinha de sair todos os dias coberta dos pés a cabeça com o sol escaldante do deserto, não pensava nas limitações, nas restrições, na prisão que era a sua vida, naquelas horas era só ela e a estrela no céu, unidas por um laço invisivel dançando ao ritmo do universo com a luz das outras estrelas e da Lua grande que se erguia no céu. E ela esperou, que a estrela voltasse, que a nuvem se fosse embora, mas isso não aconteceu. Voltou para casa com o coração pesado e na noite seguinte, assim que o Sol se pôs ela voltou ao deserto e mesmo sem ver a sua estrela ela dançou, mas a dança não era a mesma pois a alegria não se encontrava em seu coração, e a sombra daquela nuvem por cima da sua estrela não se desvanecia... esperou mais um pouco até que o despontar dos primeiros raios de sol a fizeram voltar para casa.

Pacientemente voltou ao deserto todas as noites dessa semana, não dançava nem acendia a fogueira, apenas ficava a contemplar o céu esperando que a nuvem se fosse embora e a deixasse ver a sua estrela, e quando já cansada fechou os olhos sentiu a sua estrela do outro lado, e ouviu o som que fazia ao brilhar, e sem nada que a prendesse ao deserto deixou-se ir, agarrou a mão do seu brilho e deixou que a estrela a puxasse para junto de si, guiando-a através dos ventos do deserto e das nuvens cerradas, e ela entendeu que so com a sua ajuda poderia estar junto da sua estrela. E foi quando chegou junto dela que contemplou o local mágico onde se encontravam e abraçando-a, também ela se transformou numa pequena estrela que brilhava intensamente e juntas afastaram a sombra da nuvem que parecia teimar em ficar e quando olharam para a Terra, viram as crianças que dançavam livres junto a uma fogueira acesa, maior do que aquela junto à qual ela dançava, e que representava a sua coragem por ter subido ao céu para junto da estrela que todos os dias trazia em seu coração.


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