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Conto I (Primeiro) A Pérola

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Era uma vez uma pequena pérola que vivia no fundo do mar. Protegida dos perigos que a rodeavam poucas vezes via a luz do dia, tinha medo de vir a ser roubada pelos homens e afastada de seu meio natural e da sua ostra-mãe, como resultado apenas de noite ela se expunha e brilhava intensamente mas ninguém podia ver o quanto ela era bonita, o quanto ela brilhava.

Todos os dias com o nascer do Sol ela se escondia na sua concha e todos os dias quando a lua subia ao céu ela abria a sua ostra e brilhava intensamente, em noites sem lua era quando brilhava mais como se de uma estrela se tratasse.

Mas os dias passavam, os anos, e com eles as décadas, para uma pérola o tempo pode ser muito vagaroso, e com a lenta passagem do tempo os dias de felicidade começavam a ser cada vez mais escassos, o seu brilho começou a diminuir lentamente como um fogo que se apaga em camara lenta, e a pequena pérola via a sua vida confinada ao vazio, o que antes lhe parecia chegar para ser feliz começava a não fazer mais sentido, pois de que lhe servia a beleza se ninguém a podia ver, e de que lhe servia o brilho se não tinha ninguém para iluminar. Então aos poucos e vencendo o seu medo da luz do dia começou a vir cá fora durante as horas em que o astro solar se erguia imponente na esfera celeste. De início apenas vinha por uns breves minutos, mas conforme o seu medo foi sendo vencido a pequena pérola ficava cada vez mais ousada e destemida e pedia à sua Ostra:

- Por favor abre os teus braços e deixa.me ver a luz do sol a banhar o mar!

E quando a Ostra abria seus braços a pequena pérola ficava encantada com todas as maravilhas e radiante observava os peixes de todas as cores e tamanhos, cores que ela nem sabia que existiam pois estivera demasiado tempo confinada à sua noite quase interminável, os corais que rodeavam o seu pequeno lar eram maravilhosos e abrigavam centenas de espécies marinhas, sendo cada forma de vida mais bonita que outra, e tudo isso encantava ainda mais a pequena pérola de tal forma que quando ela à noite saía da sua ostra o seu brilho era cada vez maior, ao ponto de um certo dia logo após o sol se por, quando a pequena perola saiu de sua ostra o seu brilho intenso se fez ver de uma praia ali perto e um homem que reparou em seu brilho entrou dentro do seu barco e dirigiu-se ao local de onde emanava tamanha luz, curioso com tal fenómeno. Chegando perto mergulhou e deparou-se com a mais linda perola que havia visto ate então, resolveu levá-la para sua esposa que estava doente e a pequena pérola chorou o seu destino. Sempre fora tão cautelosa e foi exatamente durante o tempo em que mais se sentia segura que fora levada, o seu próprio brilho havia sido o seu delator, e ela chorou, estava a ser levada para longe de tudo o que conhecia, de tudo o que amava e de tudo o que a fazia se sentir segura.

O Homem, alheio aos sentimentos da pérola que transportava, apenas pensava em sua esposa e na alegria que ela iria sentir ao ver o presente, ela sempre amara pérolas era impossível não ter qualquer reação quando visse a que ele carregava consigo. Entrou no quarto, dirigiu-se à sua amada e estendeu-lhe a mão, a roupa ainda pingava e os seus cabelos desgrenhados ensopavam o chão numa poça de água, olhou com o olhar brilhante de expetativa para os olhos de sua querida esposa mas os mesmos não demonstraram qualquer emoção, continuavam parados no infinito como se tivessem perdido o caminho de volta. O Homem tristemente colocou a pequena pérola em cima da mesa-de-cabeceira, agarrou a mão da sua amada e chorou, tinha-a perdido para sempre, ela nunca encontraria o caminho de volta para si e ele não a conseguia ajudar nessa busca, restava-lhe permanecer a seu lado e dar-lhe a melhor coisa que podia, a sua companhia, o seu amor e a sua dedicação, e com este ultimo pensamento apagou a luz para se poder retirar do quarto. Foi então que a pequena pérola começou a brilhar, mas com um brilho tão grande que nunca em toda a sua vida desde que fora esculpida pelas finas areias do mar, tinha brilhado de forma tão intensa.

- Talvez tenham sido as lágrimas. – Pensou ela sentindo-se ao mesmo tempo orgulhosa de sua beleza e de seu brilho

E foi aí, quando o Homem ia largar a mão da sua esposa para sair ela a apertou, emocionado ele olhou-a nos olhos e conseguiu ver uma lágrima a cair enquanto os olhos da sua amada o olhavam como não faziam há muitos anos e a pequena pérola sensível a tudo o que se passava brilhou ainda mais pois havia alcançado a verdadeira felicidade, o seu brilho conseguira trazer de volta a alma da esposa amada iluminando o caminho que lhe parecia perdido, a sua existência tinha agora um sentido….

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